Despacho, Travessa do

O estudo da Toponímia constitui um desafio cuja dificuldade varia de acordo com as fontes disponíveis, aliás, como qualquer processo de de investigação. Para garantir a validação e objectividade dos nossos textos, o cruzamento de dados é uma condição sine qua non, evitando desde logo especulações e rumores sobre possíveis origens de cada topónimo, exceptuando-se eventuais lendas ou contos decorrentes da tradição oral e escrita.
Nos casos em que não existem fontes primárias, documentais, consideramos que a designação do arruamento e o seu simbolismo se encontram diluídos no tempo, cabendo-nos persistir na busca de novos dados.
No caso deste arruamento, sabemos que, de acordo com o Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, existem referências à sua existência desde pelo menos 1712.
Designado Travessa do Despacho, este arruamento tem início na Rua do Passadiço e termina na Rua de Santa Marta.

Bibliografia
Travessa do Despacho (s.d.). Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa

Research Center

Parreiras, Travessa das

O estudo da Toponímia constitui um desafio cuja dificuldade varia de acordo com as fontes disponíveis, aliás, como qualquer processo de de investigação. Para garantir a validação e objectividade dos nossos textos, o cruzamento de dados é uma condição sine qua non, evitando desde logo especulações e rumores sobre possíveis origens de cada topónimo, exceptuando-se eventuais lendas ou contos decorrentes da tradição oral ou escrita.
Nos casos em que não existem fontes primárias, documentais, consideramos que a designação do arruamento e o seu simbolismo se encontram diluídos no tempo, cabendo-nos persistir na busca de novos dados.
No caso deste arruamento, encontrámos na grande referência da Olissipografia que foi *Júlio de Castilho, que na sua obra Lisboa Antiga. O Bairro Alto, referenciou um arruamento com esta designação, o qual, à data desta publicação (1954) tinha o nome de Rua da Cruz de Soure, e localizava-se nas proximidades da Rua da Vinha. Tratavam-se de territórios agrícolas caracterizados por hortas e vinhas, outrora pertencentes a João de Altero e associados à Adega dos Andradas.
Esta informação poderá tornar-se algo inconclusiva.  De acordo com o Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, este topónimo representa a memória de uma antiga zona rural.
Poderemos, portanto, no máximo, estabelecer um raciocínio similar ao de Júlio de Castilho no que respeita à origem da designação deste arruamento.
Designado Travessa das Parreiras, por Edital do Governo Civil de 1 de Setembro de 1859, este arruamento tem início na Calçada de Santo António e termina na Rua de Santa Marta.

 

Bibliografia
Castilho, Júlio de (1954). Lisboa Antiga. O Bairro Alto. Lisboa: Publicações Culturais do Município de Lisboa, vol. 1.

Travessa das Parreiras (s.d.). Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa

Conceição da Glória, Travessa da

Este arruamento apenas não se prolonga pela Rua Conceição da Glória por existir um desnível, tendo que, para lá chegar, prosseguir pela Rua das Taipas, caso contrário, teria o seu término na Avenida da Liberdade. A Rua da Conceição da Glória, cruza-se com a Rua da Glória e com a Rua Santo António da Glória.
A cidade de Lisboa apresenta variadíssimas evocações a Nossa Senhora da Conceição, expressadas na Toponímia, em estruturas como Igrejas e Capelas, imagens, e.o. Exemplo disso será a sexta capela da Casa do Noviciado de Nossa Senhora da Assunção da Cotovia, mais tarde Colégio dos Nobres, depois Escola Politécnica e finalmente Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Pelo que temos aferido na pesquisa desenvolvida em torno da toponímia da Freguesia de Santo António, muitas das evocações a personalidades religiosas associam-se normalmente a edifícios de culto construídos nas proximidades do topónimo, cuja designação está directamente relacionada com essas personalidades.
No caso da Rua e Travessa da Conceição da Glória, não observamos qualquer referência a algum tipo de estrutura directamente evocativa a Nossa Senhora da Conceição, muito embora possa lá ter existido, tal como José Augusto França, na obra Monte Olivete propôs, indicando que esta designação poderá ter sido originada “(...) numa ermida que na calçada existiu em meados de Quinhentos (...)”, não adiantando mais dados.
Deste modo, e considerando a quantidade de topónimos evocativos a esta figura religiosa, e a fim de evitar confusões por repetição, no dia 5 de Agosto de 1867, o Governo Civil associou a ambos os arruamentos a expressão “da Glória”, o que nos permite concluir, sem grande grau de especulação, que, pela proximidade dos restantes topónimos com essa expressão, seria apenas lógico estabelecer essa ligação.
Neste sentido, Glória referir-se-á à Ermida de Nossa Senhora da Glória, que passaremos a apresentar:
No início do século XVI, o território em que este arrumamento se encontra pertencia à Paróquia de Santa Justa. Em 1527, o Alcaide de Lisboa e Cavaleiro da Casa Real André Dias requereu aos padres dessa paróquia um aforamento dessas terras, comprometendo-se a pagar uma renda perpétua de 2000 reis. Nesse sentido, foi-lhe concedido um Breve pelo Santo Padre Clemente II, tendo aí levado a cabo o arroteamento de uma quinta, no que ficou designado como emprazamento, ou prazo de Santa Justa.
O usufruto deste terreno transitou depois para Fernão Paes (m. 1578), que em 1570 ali erigiu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Glória. No seu testamento, redigido no dia 28 de Maio de 1577, e aprovado no dia 8 de Junho desse ano pelo tabelião público Diogo Gorelha, a sua devoção é inequivocamente espelhada:
    “Item mando que cada um anno me digam na ermida de Nossa Senhora da Gloria, para sempre, por dia de Nossa Senhora da Gloria, que é em Agosto, uma Missa cantada pela alma de meu Pae e Mãe e minha, e todas as sextas feiras dos annos, e sabbados, Missa resada de requiem; e para essa perpetua obrigacão se cumprir, tomo os rendimentos todos da minha quinta de Nossa Senhora da Gloria, que me custou muito dinheiro as bemfeitorias d'ella ; e quero que ande tudo encorporado com seu encargo de fòro commum; a saber: a Santa Justa dois mil reis cada anno enfatiota em vidas.”
    
No seu túmulo, assente junto desta capela, lia-se o seguinte epitáfio:
    “Esta sepultura é de Fernão Paes, cidadão da cidade do Porto, que edificou por sua devoção esta casa de Nossa Senhora para si e seus herdeiros, à sua custa. P.N. Faleceu na era de 1578”

Durante esta década travava-se um conflito de secessão nos Países Baixos, na época sob domínio espanhol conhecido pela Guerra dos 80 anos (1568-1648). O exército liderado pelo Staudhouder Príncipe Guilherme de Orange-Nassau (1533-1584) encabeçou a revolta orientada para libertação da influência de Espanha. O Rei D. Filipe II (1527-1598) defendia fortemente a doutrina da Igreja Católica, em claro contraste com a Reforma Protestante, de que Martinho Lutero (1483-1546) havia sido precursor no dia 31 de Outubro de 1517, aquando da afixação das suas 95 teses para o “debate sobre o esclarecimento do valor das indulgências” na porta do Castelo de Wittenberg (Alemanha), nas quais criticou e propôs uma revisão de diversos pontos do catolicismo.
Deste modo, as igrejas católicas foram alvo de sucessivos ataques que desencadearam a fuga das comunidades religiosas para fora do país. De entre as inúmeras freiras que partiram da cidade de Alkmaar que para vários pontos na Europa, um pequeno grupo chegou a Portugal em 1852, altura em que Filipe II já havia sido coroado Rei, assumindo o título de Filipe I de Portugal. Recolhidas no Mosteiro da Madre de Deus no Algarve, o Provincial requereu uma audiência com o rei para reportar a situação. Chamadas à sua presença no dia 11 de Dezembro desse ano Filipe I garantiu-lhes protecção e acolhimento, tendo ordenado que ocupassem o sítio da Nossa Senhora da Glória, onde permaneceram durante quatro anos até à sua transição definitiva para o Convento de Nossa Senhora da Quietação no dia 8 de Dezembro de 1586.

Foi exactamente neste ano que a herdeira do prazo de Santa Justa, D. Francisca Paes faleceu, tendo ficado nomeado o seu marido Nuno Fernandes Mascarenhas como legítimo sucessor.
Volvido um século, a Quinta de Nossa Senhora da Glória constituiu um dote atribuído à Condessa de Castro d’Aire, D. Helena de Castro, por ocasião do seu casamento com o Conde Jerónimo de Ataíde no dia 6 de Junho de 1627.
Depois do Terramoto de 1755, foi nesta zona recuperado o palácio pertencente aos Condes da Castanheira pelos proprietários à época, os Condes de Lumiares. Alinhado com a Rua Ocidental do Passeio Público (futura *Avenida da Liberdade), apresentava em meados da década de 1760 uma longa linha de arvoredo que se estendia até à *Calçada da Glória, mantendo a ermida de Nossa Senhora da Glória e o acima referido túmulo de Fernão Paes.
Após uma reconstrução decorrente de um incêndio ocorrido em Agosto de 1865, a entrada para o pátio fazia-se pela *Travessa da Glória, através de dois portões gradeados. Finalmente, as dependências, onde se encontrava a ermida, localizavam-se na esquina entre a Travessa e a *Rua da Glória.
Segundo as descrições de *Júlio de Castilho (1800-1875), que a visitou no dia 11 de Novembro de 1902, nesta data, a capela tinha uma só nave com três altares. No altar-mor encontrava-se uma escultura em tamanho real da Imagem de Nossa Senhora da Glória, ladeada por Santo António e por São Domingos. A sacristia era contígua à capela-mor, sobre a Rua da Glória.
Designado Travessa Conceição da Glória, pelo Edital do Governo Civil de 5 de Agosto de 1867, este arruamento inicia-se na Avenida da Liberdade e termina na Rua das Taipas.


Bibliografia
Araújo; Norberto de (1938). Peregrinações em Lisboa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira;
Castilho, Júlio de (1903). Lisboa antiga. Lisboa: Antiga Casa Bertrand – José Bastos;
França, José Augusto (2001). Monte Olivete: a minha Aldeia. Lisboa: Livros Horizonte;
Freire, João Paulo (1937). Minudências lisboetas: rápidos aspectos da Lisboa antiga.  Porto: Simões Lopes;
Macedo, Luís Pastor de (s.d.) Ficheiro Toponímico. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponenses;
Melo, Ana Homem de (s.d.). Rua da Glória. Gabinete de Estudos Olisiponenses;
Melo, Ana Homem de (s.d.). Travessa Conceição da Glória. Gabinete de Estudos Olisiponenses.

Cruz do Torel, Travessa (só nº. ímpares)

João Caetano Thorel da Cunha Manuel (n. Lisboa, 1703). Desembargador.

A informação sobre a família Thorel é muito escassa. No entanto, poderá adiantar-se a seguinte biografia:
Filho de Joana Francisca da Cunha Manuel (n. 1678) e de Marcos António Thorel, que casaram no dia 4 de Abril de 1701 na Igreja de Santa Catarina, em Lisboa. Deste casamento nasceram Francisco António Thorel (1702), Cavaleiro da Ordem de Cristo, João Caetano Thorel da Cunha Manuel (1703), António José Thorel (1705), José Thorel (1706), Nicolau Joaquim Thorel da Cunha Manuel (1712), Bispo de Lamego entre 1771 e 1772, e os gémeos Ana e Joaquim Thorel (1718).
 A sua ascendência paterna era natural de Rouen, França. O seu avô, António Thorel e o seu pai dedicavam-se a negócios de grande monta, tendo acumulado fortuna.
Completou o Bacharelato em Leis na Universidade de Coimbra e, tal como o seu irmão Francisco, foi ordenado com a Ordem de Cristo, existindo registos dessa habilitação na Torre do Tombo, datados de 3 de Setembro de 1723.
Foi nomeado Corregedor de Elvas em 1734, e do Bairro Alto em 1742.
Casou com D. Agostinha Antónia Henriques Melo e Castro em 1739, na Casa Paroquial da Encarnação, tendo sido pai de três filhos.
Ordenou a construção de um palácio nos terrenos onde actualmente se encontra no *Jardim do Torel nesta freguesia. Consistia num loteamento que se estendia pela encosta, uma quinta com origem no século XVII na qual, entre outras remodelações, foi construído um um tanque de forma oval e uma varanda com balaústre, ainda hoje existentes, bem como alguns painéis de azulejos.
Na sequência do Terramoto de 1755, que provavelmente destruiu por completo este edifício, foi criada uma instituição dedicada exclusivamente à condução do plano de reconstrução de Lisboa, na qual o *Marquês de Pombal se apoiou largamente: o tribunal da Casa da Suplicação, ao qual foram incumbidas as funções anteriormente tratadas pelo Senado da Câmara. Questões relacionadas com a ordenação das propriedades e dos terrenos, orientação dos trabalhos de remoção de entulhos e de ruínas, manutenção da segurança e ordem públicas (pessoas, ruas e edifícios) e inspecção das obras de reedificação constituíam o escopo desta instituição por via do Alvará de 12 de Junho de 1758). Deste modo, a administração dos bairros era dirigida pelos desembargadores, que tinham na sua dependência todas as autoridades administrativas e judiciais.
João Caetano Thorel pertenceu ao núcleo de desembargadores que mais relevo tinha nesta instituição, tendo assumido igualmente as funções de Superintendente das obras da Patriarcal e Corregedor do Cível da Corte.
Anteriormente designado Travessa da Cruz, este arruamento foi renomeado Travessa da Cruz do Torel pelo Edital do Governo Civil do dia 1 de Setembro de 1859, iniciando-se na Calçada do Lavra e terminando na Travessa do Torel.


Bibliografia
Araújo, Ana Cristina; Cardoso, José Luís; Monteiro, Nuno Gonçalo; Rossa, Walter; Serrão, José Vicente (orgs.). (2007). O Terramoto de 1755: Impactos Históricos. Lisboa: Livros Horizonte;
Castilho, Júlio de (1903). Lisboa Antiga. Lisboa: Antiga Casa Berrand – José Bastos;
Damas, (José 2016) Torel, um apelido que me parece ter ligações ancestrais com Gaspar Campelo. Blog terras Campelo. Post de 26 de Outubro de 2016;
Santana, Francisco (dir.) (1994). Dicionário da História de Lisboa. Lisboa: Carlos Quintas e Associados.