Telhal, Rua do

O estudo da Toponímia constitui um desafio cuja dificuldade varia de acordo com as fontes disponíveis, aliás, como qualquer processo de de investigação. Para garantir a validação e objectividade dos nossos textos, o cruzamento de dados é uma condição sine qua non, evitando desde logo especulações e rumores sobre possíveis origens de cada topónimo, exceptuando-se eventuais lendas ou contos decorrentes da tradição oral e escrita.
Nos casos em que não existem fontes primárias, documentais, consideramos que a designação do arruamento e o seu simbolismo se encontram diluídos no tempo, cabendo-nos persistir na busca de novos dados.
No caso deste arruamento, sabemos que, de acordo com o Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, existem referências à sua existência desde pelo menos 1755, tal como patente nos registos paroquiais da Freguesia de São José.
Designado Rua do Telhal, este arruamento tem início na Rua de São José e termina na Rua de Santo António dos Capuchos.

Bibliografia
Rua do Telhal (s.d.). Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa

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Salitre, Rua do (n.º 2 a 196, 1 a 201)

O local em que se encontra foi mencionado pela primeira vez em 1665 nos Livros dos Óbitos da freguesia de São José: “Pátio do Salitre”, designação que se manteve até 1746.
 Tratava-se de uma horta próxima de Valverde herdado por D. Jorge de Ataíde (1535-1611), Capelão-mór do Cardeal-Rei D. Henrique I (1512-1580). Anos antes de falecer, em 1609, D. Jorge doou essa horta, na altura designada “da Palmeira” aos religiosos cartuxos. Conseguiu igualmente legar a esta Ordem os terrenos em Caxias, onde foi erigido o Convento das Laveiras, por via de um pedido endereçado ao Rei D. Filipe II (1578-1621), que para o efeito obteve do Papa Clemente VIII (1536-1592) a Bula “Circa Curam” na qual se licenciava a transferência da propriedade.
 A ordem da Cartuxa da Torre, ou Ordem dos Cartusianos foi fundada em 1084 na Cartuxa por Bruno de Hartenfaust (c.1026-1101), mestre da escola da Catedral de Reims e professor do Papa Urbano II (1042-1099), que reconheceu a formação desta Ordem e o convidou para seu conselheiro.
 O responsável pela introdução desta comunidade em Portugal em 1598 foi D. Teotónio de Bragança (1530-1602), Arcebispo de Évora.
Em Lisboa, foi nesta horta doada por D. Jorge de Ataíde que os também, conhecidos por frades Brunos, erigiram o Hospício do Monte Olivete, ou da Palmeira aí permanecendo até à Reforma Geral Eclesiástica em 1834. Este terreno estendia-se até à zona da *Alegria, onde existiam várias casas e hortas arrendadas a cidadãos lisboetas.
 A actual designação “Salitre” surgiu pela primeira vez em 1710 nos registos da freguesia de São José. O salitre consiste numa designação associada ao nitrado de sódio ou ao nitrato de potássio, cujas aplicações se estendem à preservação de alimentos, fertilização dos solos e ao fabrico de pólvora. A sua produção remonta pelo menos ao século XV, demonstrando-se fulcral para assegurar a capacidade bélica do reino.
 *Gustavo de Matos Sequeira (1880-1962) justificou a designação deste arruamento pela existência de uma nitreira nesta horta através de uma carta redigida pelo Mestre Nitreiro Manuel Francisco da Cruz endereçada ao especialista Luís Tomás Regnault, pertencente a documentação relativa à Real Nitreira do Braço de Prata:

 “(...) esta horta he dos P" Brunos anda arrendada por 40.000 reis por anno, quando o seu valor será de 25; porem ainda assim mesmo o rendeiro se não contentará com pouco pelo trespace em razão de estar ali arranjado há muitos annos com a sua familia, porem nesta parte se pode arranjar de forma que todos fiquem bem, fazendo-o ocupar no trabalho da mesma nitreira.
Presentemente parece não terá arrendamento serto por se lhe ter acabado o que tinha, e ficar continuando visto pagar bem etc. O terreno da horta he bom e bom posso de ágoa porem não tem cousa de casas que possam servir.”

 Em 1802, o Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros e Insperctor-Geral das Nitreiras e Fábrica da Pólvora de Minas Gerais, Manuel Jacinto Nogueira da Gama, proferiu na Secção Pública da Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica uma comunicação intitulada “Memória sobre a absoluta necessidade, que ha, de Nitreiras nacionaes para a independência e defensa dos Estados com a descripção da origem, actual estado, e vantagens da Real Nitreira Nacional de Braço de Prata”. Publicada em 1803 pela Impressão Régia, nas mais de oitenta páginas surge a todo o passo a referência ao fabrico de pólvora e a sua directa associação à produção e recolha de salitre a partir de nitreiras naturais e artificiais.
 Este arruamento tinha a designação anterior de Travessa das Vacas por aí existirem casas onde se fazia a recolha destes animais, bem como de burros e cabras associados a essas hortas.
 Designado Rua do Salitre, este arruamento inicia-se na Avenida da Liberdade, terminando na Rua Rodrigo da Fonseca.


Bibliografia:
Branco, Manuel Bernardes (1888). História das Ordens Monásticas em Portugal. Lisboa: Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão;

Gama, Manuel Jacinto Nogueira da (1803). Memória sobre a absoluta necessidade, que ha, de Nitreiras nacionaes para a independência e defensa dos Estados com a descripção da origem, actual estado, e vantagens da Real Nitreira Nacional de Braço de Prata. Lisboa: Impressão Régia;

Sequeira, Gustavo de Matos (1916). Depois do terremoto. Subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa.

Prior Coutinho, Rua do

José Inácio de Gouveia Coutinho (m. Lisboa, 18 Jan. 1859). Pároco da Freguesia do Coração de Jesus.
O estudo da Toponímia constitui um desafio cuja dificuldade varia de acordo com as fontes disponíveis, aliás, como qualquer processo de de investigação. Para garantir a validação e objectividade dos nossos textos, o cruzamento de dados é uma condição sine qua non, evitando desde logo especulações e rumores sobre possíveis origens de cada topónimo, exceptuando-se eventuais lendas ou contos decorrentes da tradição oral e escrita.
Nos casos em que não existem fontes primárias, documentais, consideramos que a designação do arruamento e o seu simbolismo se encontram diluídos no tempo, cabendo-nos persistir na busca de novos dados.
No caso deste arruamento, apenas sabemos que lá se encontra a casa onde morou este padre. A acção na Freguesia do Coração de Jesus justificou uma homenagem na forma de uma placa instalada na parede do edifício em Janeiro de 1888, mês e ano em que foi publicado o Edital no qual o Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Pereira Palha Osório Cabral (1850-1897) fez saber que a Travessa do Açougue Velho passou a ter a denominação de Rua do Prior Coutinho.
Pode ler-se na placa, ainda hoje imaculadamente preservada:
“Nesta casa faleceu aos 18 de Janeiro de 1859 o Parocho d’esta Freguesia do Coração de Jesus, P.e José Ignácio de Gouvea Coutinho. Fique esta lapida aqui perpetuando a augusta memória das suas virtudes e a grata saudade dos que foram seus parochianos. Janeiro 1888”
    
Designado Rua do Prior Coutinho pela Deliberação Camarária de 31 de Dezembro de 1887 e o acima referido Edital do Governo Civil de 10 de Janeiro de 1888, este arruamento tem início na Rua do Passadiço e termina na Rua de Santa Marta.

Conde de Redondo, Rua do (desde n.º 18 a 51)

Palácio dos Condes de Redondo
Arrumamento assim designado por neste local ter sido construído o Palácio dos Condes de Redondo. Este título foi concedido a D. Vasco Coutinho (c. 1450-1522), Capitão de Arzila, pelo Rei D. Manuel I (1469-1521) através de Carta Régia de 2 de Junho de 1500. Nos termos desta carta, o cedia ao Rei o Senhorio e Condado de Borba, que lhe havia sido concedido em 3 de Novembro de 1485 pelo Rei D. João II (1455-1495), recebendo em troca o novo Condado de Redondo e o Senhorio de Paiva, com 290 mil reis de renda.
D. Vasco casou com D. Catarina de Meneses tendo sido pai de D. João Coutinho (n. 1480), 2.º Conde de Redondo, que executou funções de Capitão de África e duas vezes Governador da Praça de Arzila. D. João casou com Isabel Henriques e foi pai de D. Francisco Coutinho (n. 1517), 3.º Conde de Redondo, nomeado em 1561, Vice-Rei da Índia. D. Luís Coutinho (n. 1540), 4.º Conde de Redondo, pereceu em 1578 na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, tendo-lhe sucedido o irmão, D. João Coutinho (n. 1540), 5.º Conde de Redondo e conselheiro D. Sebastião.
O 6.º conde foi D. Francisco Coutinho (n. 1588), que não deixou descendência, tendo o seu título transitado para o sobrinho, D. Duarte de Castelo Branco (n. 1610). O 8º Conde foi irmão de D. Duarte, D. Francisco de Castelo Branco (1620).
Seguiu-se D. Manuel Coutinho (n. 1661), 4.º neto de D. Vasco Coutinho. O 10.º Conde de Redondo foi D. Fernão de Sousa de Castelo Branco Coutinho e Meneses (n. 1640), filho de D. Francisca da Meneses que era irmã de D. Duarte e D. Francisco (7.º e 8º Condes).
Continuando a linha de descendência, surge D. Tomé de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (n. 1677), D. Fernando de Sousa Coutinho (n. 1716), D. Tomé Xavier de Sousa Coutinho de Castelo Branco e Meneses, 1.º marquês de Borba (n. 1753), D. Fernando Maria de Sousa Coutinho, 2.º marquês de Borba (n. 1776), D. José Luís Gonzaga de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (n. 1797), D. Fernando Luís de Sousa Coutinho Castelo Branco e Meneses (n. 1835), tendo D. Fernando José Luís Burnay de Sousa Coutinho (1883–1945) sido o ultimo representante deste título na sequência da Implantação da República em 1910, no âmbito os títulos nobiliárquicos foram extintos.
Durante o terceiro quartel do século XVII, D. Duarte ou o seu irmão, D. Francisco (7.º e 8.º Condes de Redondo, respectivamente), mandaram construir um palácio onde actualmente se encontra este arruamento. Na sequência da morte de D. Francisco, e pelo facto de não ter deixado descendência, o edifício tornou-se propriedade da Coroa, em 1686, tendo sido utilizado como residência de D. Catarina.
Em 1693, o palácio retorna à pertença dos detentores do título de Conde de Redondo, desta feita, para o 9.º, D. Manuel Coutinho.
Tendo escapado praticamente ileso ao Terramoto de 1755, no último quartel do século XVII, o 12.º Conde de Redondo, D. Fernando Sousa Coutinho levou a cabo obras de melhoramento ao palácio.
Durante o século XX, funcionaram neste edifício instituições de assistência social, escolas primárias, estabelecimentos comerciais até que, no dia 13 de Dezembro de 1985 foi fundada a Universidade Autónoma de Lisboa, da qual se tornou sede.
Designado Rua do Conde de Redondo pela Deliberação Camarária de 4 de Dezembro de 1902 e respectivo Edital do Governo Civil de 11 de Dezembro do mesmo ano, este arruamento inicia-se na Rua Gomes Freire e termina na Rua Ferreira Lapa.

 

Bibliografia
Sousa Coutinho, Família, Condes de Redondo (1500-1910). INVENT.ARQ - Inventários de arquivos de família, sécs. XV-XIX: de gestão e prova a memórias perdidas. Repensando o arquivo pré-moderno. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas;
Araújo, Norberto de (1949). “Palácio dos Condes de Redondo”in Inventário de Lisboa. Lisboa : Câmara Municipal, F. 6, pp. 59-60.