Caridade, Rua da

O estudo da Toponímia constitui um desafio cuja dificuldade varia de acordo com as fontes disponíveis, aliás, como qualquer processo de de investigação. Para garantir a validação e objectividade dos nossos textos, o cruzamento de dados é uma condição sine qua non, evitando desde logo especulações e rumores sobre possíveis origens de cada topónimo, exceptuando-se eventuais lendas ou contos decorrentes da tradição oral e escrita.

Nos casos em que não existem fontes primárias, documentais, consideramos que a designação do arruamento e o seu simbolismo se encontram diluídos no tempo, cabendo-nos persistir na busca de novos dados.

No caso deste arruamento, sabemos que, de acordo com o Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa, este topónimo será anterior ao Terramoto de 1755, visto que existe a referência à Rua da Charid.e nos registos paroquiais, tendo posteriormente adoptado a grafia actual. Este Departamento propõe ainda a hipótese de a sua origem estar relacionada com os Irmãos da Caridade, agrupamento religioso a que Gustavo Matos Sequeira indicou ter assumido a responsabilidade pela gestão dos bens de dotação da Ermida Nossa Senhora Mãe de Deus e dos Homens, construída em 1749, lugar onde se sediou a Freguesia de São Mamede.

Designado Rua da Caridade, este arruamento tem início na Rua do Passadiço e termina na Rua do Cardal a São José.

Bibliografia

Rua da Caridade (s.d.). Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa

Sequeira, Gustavo Matos de (1933). Depois do Terremoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, vol. IV.

Research Center

Artilharia Um, Rua de (desde o n.º 2 ao 44 e do n.º1 ao 87)

Este regimento teve origem no Troço de Artilharia de Repartição do Mar, criado no século XVII. Até ter sido denominado Regimento de Artilharia 1, pelo Decreto de 19 de Maio de 1806, atravessou várias fases de desenvolvimento, a saber: pelo Decreto de 23 de Novembro de 1708, o Troço de Artilharia de Repartição do Mar foi convertido no Regimento de Artilharia da Corte e da Armada, cuja designação foi alterada pelo Alvará de 9 de Abril de 1762 para Regimento de Artilharia da Corte (ou Regimento de Artilharia de São Julião da Barra).
Na sequência dos Decretos de 22 de Fevereiro e de 23 de Março de 1801, foram-lhe incorporadas duas novas companhias de Artilharia a cavalo, quatro artífices, e o soldo dos seus oficiais foi aumentado. Três anos depois, por via do Decreto de 23 de Junho de 1803, ocorreu uma nova incorporação: a da Bateria de Artilharia Ligeira da Legião de Tropas Ligeiras. Em 1804, o Decreto de 22 de Janeiro subtraiu as três companhias de Artilharia a Cavalo anteriormente incorporadas neste Regimento que, dois anos depois, tal como acima referido, passou a designar-se de Artilharia 1.
Entre 1808 e 1840, foi reorganizado e extinto: o Edital de 30 de Setembro de 1808 definiu a sua reestruturação na Torre de São Julião da Barra, o Decreto de 15 de Abril de 1831 renomeou-o novamente para Regimento de Artilharia da Corte, tendo sido suprimido no âmbito da Convenção de Évora-Monte, no dia 26 de Maio de 1834.
Foi reactivado por Decreto em 1840, no dia 26 de Outubro enquanto 1.º Regimento de Artilharia. Entre 1863 e 1868 foi construído em Campolide o quartel onde este regimento se estabeleceu, o qual, após ter cumprido várias funções foi convertido na sede do Instituto Geográfico Português, fundado em 2002 por via da Resolução do Conselho de Ministros n.º 110/2001 de 10 de Agosto.
A construção deste quartel para o Regimento de Artilharia 1 estava incluída no Plano Geral de Fortificação de Lisboa concebido pelo Ministro da Guerra, Bernardo de Sá Nogueira Figueiredo, Marquês de Sá da Bandeira (1795-1876), um dos dois grandes projectos em que se concentrou o seu trabalho desde 1860 (aprovado numa lei de 1863), sendo o segundo a abolição total da escravatura.
Anteriormente designado por Rua de Entremuros (1897) e Rua José da Silva Carvalho, este arruamento foi renomeado para Rua de Artilharia 1, por Deliberação Camarária de 3 de Agosto de 1911 e respectivo Edital do Governo Civil de 7 de Agosto do mesmo ano, este arruamento inicia-se nas Ruas de São Filipe Neri, terminando na Rua Marquês da Fronteira.


Bibliografia
AAVV (s.d.). Regimento de Artilharia 1 / Regimento de Artilharia da Corte. Arquivo Histórico Militar.
Balula Cid, António José  (1957). Unidades de Artilharia: sua evolução. Lisboa: s.ed
Melo, Ana Homem de (s.d.). Rua de Artilharia 1. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponeneses;
Nascimento, Alfredo Moreira do (1953) O Quartel de Campolide. s.c.: s.ed.
Sequeira, Gustavo Matos de (1917). Depois do Terremoto. Subsídios dos bairros ocidentais de Lisboa. Vol. II. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa.

Alegria, Rua da

O designado Sítio da Alegria localizava-se na actual Praça do Príncipe Real, em prolongamento até ao Sítio do Rato. Na primeira metade do século XVIII, constituía um local de terrenos de cultivo.
A criação de um bairro neste local foi uma consequência do Terramoto de 1755, desalojadas e com a cidade destruída, as populações procuraram áreas descampadas ou mal povoadas para se restabelecer. Este bairro cresceu com o desenvolvimento do Passeio Público e posterior abertura da *Avenida da Liberdade. Em 1778 existiam apenas oito prédios de feição pombalina neste local e indicações registadas sobre esta designação são inexistentes nos livros paroquiais antes da década 1760.
Entre 1809 e 1882, ocorria neste local a Feira da Alegria, cuja origem remonta, pelo menos, ao século XIII, transitando desde então por vários sítios até ter chegado a este arruamento, a saber: iniciou-se no Chão da Feira, ao Castelo de São Jorge, até ao Terramoto no Rossio e, no acima referido Sítio da Alegria, entre 1773 e 1809. Constituía uma espécie de Feira da Ladra, onde se poderia comprar e vender todo o tipo de produtos. Estendia-se desde este arruamento para a *Avenida da Liberdade, chegando à Praça dos Restauradores.
Os mais notáveis Olissipógrafos não encontraram uma justificação para a origem deste topónimo, especulando que poderá assentar numa invocação religiosa inspirada na Nossa Senhora da Alegria.
Como nota adicional, poderemos acrescentar que a *Praça da Alegria foi, durante alguns meses, chamada de Praça do Suplício, por neste local ter sido enforcada no dia 31 de Março de 1772 D. Isabel Xavier Clesse, condenada por ter atraiçoado e envenenado o marido, um piloto de carreira das Índias chamado Tomáz Goilão. Tendo em conta a ausência de Goilão nas suas expedições, Clesse encetou uma relação extra-conjugal com Januário Rebelo, um porta-bandeira de um regimento do exército. Esta ligação manteve-se mesmo após a chegada do marido, e era vivida de forma “(...) pública e escandalosamente emancebada”.
Deste modo, misturou ácido nitroso num clister receito pelo médico ao seu marido. A sua fuga confirmou as suspeitas, bem como o facto de se ter provado que o seu criado, João, havia ido à botica adquirir o químico, alegando que seria para o tratamento dos calos da sua patroa. A sentença foi decretada apenas três dias antes do seu enforcamento.
Anteriormente designado Rua Nova da Alegria, este arruamento foi renomeado Rua da Alegria pela Deliberação Camarária de 18 de Maio de 1889 e respectivo Edital do Governo Civil de 8 de Junho do mesmo ano, iniciando-se na Praça da Alegria, tendo o seu término na Calçada da Patriarcal.

 

Bibliografia
Araújo, Norberto de (1938-9). Peregrinações em Lisboa. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, vol. 14;
Sequeira, Gustavo Matos de (1917). Depois do Terremoto. Subsídios dos bairros ocidentais de Lisboa. Vol. II. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa;
Topa, Francisco (2000). Um caso do século XVIII: Isabel Xavier Clesse, a Parca Cristaleira – Poemas Inéditos sobre o Tema. Porto: Edição de Autor.

Cecílio de Sousa, Rua (desde n.º 27 ao 91)

Cecílio de Sousa (n. Albarraque, Sintra, 22 Nov. 184-; m. Lisboa, 2 Mar. 1897) Jornalista, Propagandista do Ideal Republicano.

De filiação desconhecida, participou na Armada, alistado como grumete, modalidade que fez com que chegasse a desembarcar em Angola, Cabo Verde, na Índia, na Madeira e em Moçambique.
De regresso ao continente em 1866, iniciou a sua aprendizagem no ofício de aprendiz de tipógrafo, tarefa na qual foi excelso. Foi nessa modalidade que iniciou a sua carreira permeada de fortes ideais republicanos. Compôs, por vezes sozinho, o periódico O Povo e, um jornal da autoria de Francisco Vieira da Silva (1825-1868).
Em estreita colaboração com José António Ferreira participou activamente na edição de diversos periódicos e satíricos e críticos, designadamente Sancho Pança, O Trinta, Trinta Diabos Júnior, Trinta Diabos, e O Trinta Mil Diabos. Mais tarde participaria também no Folha do Povo, edição em que continuou a afirmar os seus ideais republicanos.
Cecílio de Sousa era conhecido pela frontalidade com que lidava com os outros, e pela sua escrita acutilante, o que lhe valeu alguns conflitos pessoais. No entanto, mantinha uma elevada estima a Teófilo Braga (1843-1924) e, apesar de se tratar de uma figura pouco conhecida, foi um activo combatente da Monarquia, mormente por via da sua escrita.
O seu impacto foi evidente, valendo que, em reunião de Câmara, se o tivesse homenageado com este topónimo, por ter vivido numa casa na Rua da Procissão, designação original deste arruamento, a saber:
“(...) o Senado Municipal, em sessão próximo findo, prestando homenagem ao malogrado jornalista Cecílio de Sousa, que foi um dos precursores da Republica e um prestimoso cidadão, que viveu durante muitos anos numa casa da rua da Procissão e ali faleceu, deliberou dar á referida rua a denominação de Rua Cecílio de Sousa / Propagandista do ideal republicano – Século XIX”.

Anteriormente designado Rua da Procissão do Corpo de Deus (1770) e Rua da Procissão, este arruamento foi renomeado para Rua Cecílio de Sousa por Deliberação Camarária de 3 de Junho de 1926 e respectivo Edital do Governo Civil de 18 de Junho do mesmo, iniciando-se na Rua da Palmira e terminando na Rua da Escola Politécnica.

 

Bibliografia
 Rua Cecílio de Sousa. Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa