Alegria, Praça da

O designado Sítio da Alegria localizava-se na actual Praça do Príncipe Real, em prolongamento até ao Sítio do Rato. Na primeira metade do século XVIII, constituía um local de terrenos de cultivo.
A criação de um bairro neste local foi uma consequência do Terramoto de 1755, desalojadas e com a cidade destruída, as populações procuraram áreas descampadas ou mal povoadas para se restabelecer. Este bairro cresceu com o desenvolvimento do Passeio Público e posterior abertura da *Avenida da Liberdade. Em 1778 existiam apenas oito prédios de feição pombalina neste local e indicações registadas sobre esta designação são inexistentes nos livros paroquiais antes da década 1760.
Entre 1809 e 1882, ocorria neste local a Feira da Alegria, cuja origem remonta, pelo menos, ao século XIII, transitando desde então por vários sítios até ter chegado a este arruamento, a saber: iniciou-se no Chão da Feira, ao Castelo de São Jorge, até ao Terramoto no Rossio e, no acima referido Sítio da Alegria, entre 1773 e 1809. Constituía uma espécie de Feira da Ladra, onde se poderia comprar e vender todo o tipo de produtos. Estendia-se desde este arruamento para a *Avenida da Liberdade, chegando à Praça dos Restauradores.
Os mais notáveis Olissipógrafos não encontraram uma justificação para a origem deste topónimo, especulando que poderá assentar numa invocação religiosa inspirada na Nossa Senhora da Alegria.
Como nota adicional, poderemos acrescentar que a Praça da Alegria foi, durante alguns meses, chamada de Praça do Suplício, por neste local ter sido enforcada no dia 31 de Março de 1772 D. Isabel Xavier Clesse, condenada por ter atraiçoado e envenenado o marido, um piloto de carreira das Índias chamado Tomáz Goilão. Tendo em conta a ausência de Goilão nas suas expedições, Clesse encetou uma relação extra-conjugal com Januário Rebelo, um porta-bandeira de um regimento do exército. Esta ligação manteve-se mesmo após a chegada do marido, e era vivida de forma “(...) pública e escandalosamente emancebada”.
Deste modo, misturou ácido nitroso num clister receito pelo médico ao seu marido. A sua fuga confirmou as suspeitas, bem como o facto de se ter provado que o seu criado, João, havia ido à botica adquirir o químico, alegando que seria para o tratamento dos calos da sua patroa. A sentença foi decretada apenas três dias antes do seu enforcamento.
Considerando a necessidade de oficializar os topónimos em uso, mas ainda não registados, a Comissão de Toponímia, presidida pelo vereador João Souto aprovou este e outros arruamentos ao cabo de 19 reuniões realizada entre 17 de Novembro de 1943 e 11 de Dezembro de 1945.
Designado Praça da Alegria, este arruamento resulta da confluência entre a Avenida da Avenida da Liberdade, Travessa do Salitre, Rua da Alegria e Rua da Conceição da Glória.

 

Bibliografia
Araújo, Norberto de (1938-9). Peregrinações em Lisboa. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, vol. 14;
Sequeira, Gustavo Matos de (1917). Depois do Terremoto. Subsídios dos bairros ocidentais de Lisboa. Vol. II. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa;
Topa, Francisco (2000). Um caso do século XVIII: Isabel Xavier Clesse, a Parca Cristaleira – Poemas Inéditos sobre o Tema. Porto: Edição de Autor.

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Parque Mayer

Muito embora o Teatro de Revista tenha surgido em Portugal em 1851, o primeiro espaço que veio a concentrar vários teatros especializados neste género foi o Parque Mayer, inaugurado no dia 15 de Junho de 1922.
Resultou de uma partilha familiar do Palácio Lima Mayer, pertencente a Adolfo de Lima Mayer (1838-1918), cujos jardins e espaços adjacentes foram adquiridos por Artur Brandão e vendidos em 1921 ao empresário, jornalista e autor Luís Galhardo (1874-1929), que fundou a empresa Sociedade Avenida Parque, Lda., com o intuito de explorar esse espaço no âmbito de uma indústria do espectáculo e do entretenimento.
Tratava-se de um local de divertimento e de sociabilidades, que, para além dos quatro teatros que viria a ter, disponibilizava aos seus consumidores “feiras típicas”, cafés, restaurantes, clubes e cabarets. Neste contexto, poder-se-ão destacar as barracas de tiro, os fantoches, os carrocéis, bailes de fim-de-semana, bailes do Carnaval, o estúdio de fotografia Fotografia Lusitana, o animatógrafo no espalho Alhambra e Pavilhão Português, os ringues de patinagem, os carrinhos de choque, entre outros.
À data da sua inauguração, foi também inaugurado o seu primeiro espaço teatral – o Teatro Maria Vitória, a que se seguiu o Teatro Variedades (8 de Julho de 1926), o Teatro Capitólio (10 de Julho de 1931) e o Teatro ABC (13 de Janeiro de 1956).
Este espaço lisboeta rapidamente se transformou num polo de atracção que fomentou a mobilização da população de todo o país motivada pelo desejo de fruição dos espectáculos de revista, das suas vedetas e repertórios musicais que estas interpretavam.
Com efeito, a grande maioria dos espaços de performação deste género teatral concentrou-se neste espaço durante anos, tendo mesmo chegado a ser conhecido como a Broadway portuguesa ou a Catedral da Revista. Existiam, evidentemente, outros espaços teatrais que levavam à cena espectáculos de Revista, sendo que, no entanto, o Parque Mayer foi assumido enquanto símbolo distintivo associado a este género de Teatro Popular Ligeiro.
Estendendo-se ao longo de praticamente trinta anos, este enquadramento modificou-se no início da década de 1950 com o surgimento do empresário Vasco Morgado que, com a inauguração do Teatro Monumental no dia 8 de Novembro de 1951, criou toda uma gama de espectáculos orientados para um tipo de consumo mais sofisticado, o que incrementou o carácter popular do Parque Mayer, que se dirigia a um público habituado à chamada Revista à Portuguesa, ou seja, com um formato tradicional, tal como existia desde o seu surgimento, tal como acima referido, em 1851.
O novo modelo sócio-político erigido a partir do 25 de Abril de 1974, implicou novamente a criação novos hábitos de consumo, alterando por este motivo as preferências do público português. A dissolução das Comissões de Censura vetou a necessidade da crítica velada e metafórica – uma das mais inteligentes, satíricas e divertidas características do Teatro de Revista – relegando este género teatral, na época em claro declínio, para um tipo de texto de recurso recorrente ao calão, ao seu quase desaparecimento.
Despojado das suas barraquinhas, ringues e pistas (considere-se também a abertura da Feira Popular em Entrecampos no dia 24 de Junho de 1961), incapaz de atrair o público de outrora, o Parque Mayer transformou-se num espaço vetado ao abandono, onde apenas resistiu o empresário teatral Hélder Costa, grande responsável pela sobrevivência deste género teatral no ainda operacional e recuperado Teatro Maria Vitória.
Actualmente, o Parque Mayer sofreu extensas obras de melhoramento, tendo muito recentemente sido concluída a remodelação total do Teatro Capitólio, rebaptizado para Teatro Raúl Solnado.
    Designado Parque Mayer, arruamento situa-se junto do lado ocidental da Avenida da Liberdade, entre a Rua do Salitre e a Praça da Alegria.

 

Bibliografia
Antunes de Oliveira, Gonçalo (em preparação). “O Teatro do Povo ou para o Povo, quem o faz sou eu”: Vasco Morgado e o Teatro de Revista em Lisboa (1951-1979). Dissertação de Doutoramento em Ciências Musicais – Ramo de Etnomusicologia. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

Hintze Ribeiro, Largo

Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro (n. Ponta Delgada, 07 Nov. 1849; m. Lisboa 01 Ago. 1907). Político.

Licenciado em Direito na Universidade de Coimbra com 22 anos, dedicou-se à advocacia em Ponta Delgada até 1877, ano em que fixou em Lisboa. Membro do Partido Regenerador dirigido por *Fontes Pereira de Melo, foi deputado em 1878. A partir de 1881, ocupou vários ministérios em governos do Partido Regenerador dirigidos por Fontes e António de Serpa Pimentel (1825-1900), designadamente Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Negócios Estrangeiros e da Fazenda. Par do reino em 1886, Conselheiro de Estado em 1891, foi Presidente do Conselho em 1893-1897, 1900-1904 e 1906-1906.
Sendo considerado um dos líderes duros do campo monárquico, foi duro mesmo com os rivais monárquicos, tendo levado a cabo alterações à Lei Eleitoral para beneficiar o seu partido e impedir a representação das minorias, tendo adoptado o método censitário de validação dos direitos eleitorais e o julgamento sumário e degredo para Timor dos anarquistas que nessa época atacavam a monarquia com métodos violentos.
N    os seus governos, Hintze Ribeiro tentou em vão salvar o regime monárquico do declive de decadência cada vez mais acentuado. Nesse esforço, inicialmente foi seu colaborador, depois temível rival e um dos responsáveis pela sua queda, João Franco (1855-1929), tendo o seu primeiro governo sido conhecido por Governo Hintze-Franco.
Franco fundou mais tarde um partido rival, o Centro Regenerador Liberal, para competir com o Partido Regenerador de Hintze. Na fase final, este esforço levou-o a extremos, antecipando de certa forma o que viria a ser a ditadura franquista que lhe sucedeu. Nesse sentido, ordenou uma carga policial excessivamente violenta sobre manifestantes republicanos aquando da chegada a Lisboa de Bernardino Machado (1851-1944).
Tentou também adiar as Cortes para contrariar a subida eleitoral de franquistas e republicanos. Em ambos os casos perdeu o apoio do Rei, figura que muito estimava com símbolo da Monarquia, que o preteriu a Franco.
Ao perder o apoio do Rei, Hintze demitiu-se acabando por ser substituído por Franco. Mais tarde o Rei concede ao novo Presidente do Conselho o que negou a Hintze: um governo sem as Cortes. Estes factos abalaram moralmente o político que, profundamente leal à pessoa do Rei, nunca chegou recuperar.
Viajou pelo estrangeiro e regressou à política, obstinando-se amargamente em atacar no Parlamento o seu sucessor. Morreu no funeral do seu amigo Conde de Casal Ribeiro.
Hintze Ribeiro foi reconhecido mesmo pelos adversários como uma das maiores figuras políticas e um dos grandes oradores do seu tempo. Constituiu um dos pioneiros no caminho para a autonomização das ilhas, pelo Decreto-Lei de 1895, que concedeu a possibilidade de autonomia dos Açores.
Designado Largo Hintze Ribeiro pelo Edital do Governo Civil de 20 de Abril de 1988, este arruamento localiza-se junto à Rua do Salitre.

Bibliografia
Lobato, Gervásio (1890). “O novo Ministério” in O Occidente, vol. XIII, n.º 401, 11 de Fevereiro de 1890;
Lobato, Gervásio (1890). “Hintze Ribeiro” in O Occidente, vol. XIII, n.º 404, 11 de Março de 1890;
s.d. (1907) “Hintze Ribeiro – A sua Morte, o seu Enterro” in Illustração Portuguesa, Lisboa, 12 de Agosto de 1907.

Rato, Largo do

Luiz Gomes Coronel de Sá e Menezes. Descendente de Manuel Gomes de Elvas, fundador do Mosteiro de Nossa dos Remédios das Religiosas da Santíssima

Filho de Luís Nunes Coronel e de Maria Josefa da Silva, nasceu no final da década de 60 do século XVII. Trata-se do bisneto de um irmão de Manuel Gomes de Elvas, que fundou nos seus terrenos em Campolide um mosteiro destinado a albergar quarenta freiras da Ordem Trinitária, uma área que viria a ficar conhecida na altura como a zona do Rato.

O alvará da de licença de construção foi concedido no dia 15 de Maio de 1614 pelo Rei D. Filipe II de Portugal (1578-1621).

O processo associado à edificação deste convento foi burocraticamente moroso, tendo sido o seu descendente, Luiz Gomes de Sá e Menezes, de alcunha O Rato, a conseguir dar início às obras em 1633, doze anos após a sua morte, considerando-se que tenha sido justamente a sua alcunha a inspirar a designação actual do arruamento aqui apresentado.

No seu testamento, Manuel Gomes instituiu dois morgadios que viriam a ser herdados pelos seus descendentes indirectos, já que não tinha filhos, com a obrigação de concluírem o mosteiro.

O edifício, o primeiro Ordem da Santíssima Trindade em Lisboa, ficou concluído em 1721, ano em que formalmente as religiosas o puderam habitar. Em 1874, o então chamado Convento da Nossa Senhora dos Remédios das Freiras da Santíssima Trindade, vulgo, Convento do Rato, foi tomado pelo Estado no seguimento da morte da última freira, para, nove anos depois ter sido convertido no Asilo de Nossa Senhora da Conceição, destinado a raparigas abandonadas.

Com o correr dos séculos, o edifício assumiu vários papeis: Provedoria Central da Assistência (1910), Asilo de José Estêvão de Magalhães (1914), Direcção-Geral da Assistência Pública (1928), Direcções-Gerais da Segurança Social (1971, 1977, 1991, 2000, 2004, 2005).

Neste local foi ainda construído o Chafariz do Rato em Março de 1754, abastecido pela Mãe de Água das Águas Livres, tal como definido nos planos de Carlos Mardel no âmbito da extraordinária obra do *Aqueducto das Águas Livres.

Designado Largo do Rato pelo Edital do Governo Civil de 23 de Dezembro de 1948, este arruamento resulta da confluência da Rua Alexandre Herculano, Avenida Álvares Cabral e Rua das Amoreiras.

Foi também anteriormente designado por Rua Direita do Rato, Rua do Rato e Praça do Brasil, esta última por Deliberação camarária de 29 de Setembro de 1910 e Edital de 5 de Novembro do mesmo ano, como forma de homenagear a presença presidente deste país em Lisboa na altura (tal como a *Praça do Príncipe Real neste mesmo decreto havia sido designada Praça do Rio de Janeiro), muito embora, tal como acima referido, retornou ao seu nome original em 1948, já que a população lisboeta não deixou de utilizar o nome Rato associado a este topónimo.

 

Bibliografia:

Augusto-França, José, A sétima colina: roteiro histórico e artístico, Lisboa, Livros, Horizonte, 1994, p. 138.

Melo, Ana Homem de (s.d.). Largo do Rato. Gabinete de Estudos Olisiponenses;

Santana, Francisco e Sucena, Eduardo, (dir.), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, [s. n.], 1994, p. 950.

Sequeira, Gustavo de Matos - Depois do Terramoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922.