Amoreiras, Travessa das

Bairro das Águas Livres

No dia 14 de Março de 1759 foi promulgado o alvará para a construção do Bairro das Águas Livres. Este projecto teve como objectivo primordial a criação de infraestruturas com a capacidade de instalação de teares de seda, bem como de habitações condignas para os trabalhadores da *Real Fábrica das Sedas. Segundo este documento, a fábrica não dispunha de teares suficientes que permitissem a graduação dos operários, mantendo-se desse modo aprendizes até serem considerados mestres. Concebido pelo próprio *Marquês de Pombal, este bairro visava o desenvolvimento da indústria de manufacturas justamente através da melhoria dos meios de produção (meios e objectos de trabalho) e das condições de vida dos trabalhadores (ou força de trabalho).
Dando preferência aos artífices das sedas de matrizes da Real Fábrica das Sedas, estas edificações tinham um tecto definido no que respeitava ao custo do seu arrendamento: nunca poderiam ultrapassar os quarenta e oito mil reis anuais.
O arquitecto encarregue do desenho da planta deste espaço foi também um dos responsáveis pela concepção e construção do *Aqueduto das Águas Livres – Engenheiro Carlos Mardel – por indicação do Marquês de Pombal, que também o nomeou Director e Inspector das obras deste bairro.
Tratava-se de uma filosofia de construção assente no alargamento das estruturas manufactureiras baseadas na difusão uma indústria de características privadas.
Deste modo, no dia 22 de Maio de 1759 foram lançados três despachos no sentido de formalizar o início deste processo de urbanização consubstanciado na construção de 60 casas, a cargo da direcção da Real Fábrica das Sedas. No seguimento do Terramoto de 1755, embora não integrando o processo de reconstrução da cidade de Lisboa, este projecto poder-se-ia considerar em linha com a reforma urbanística da cidade preconizada pelo Marquês de Pombal.
Neste contexto, todo o espectro urbano permitiria uma expansão da cidade para o Ocidente, aproveitando e seguindo as infraestruturas e monumentalidade do Aqueduto das Águas Livres, da *Mãe d´Água e do próprio *Largo do Rato, na altura ainda ladeados por grandes extensões de terreno (quintas, descampados, e.o.). E é justamente deste modo que surgiu a Praça das Águas Livres, actualmente denominada por Jardim das Amoreiras. Este foi o enquadramento ideal para a criação deste novo espaço, já que era neste local que se situava o pórtico que demarcava um dos pontos terminais e monumentais do Aqueduto das Águas Livres.
Nesta época este arruamento era conhecido por Sítio das Águas Livres, considerando a sua associação directa ao Aqueduto, surgindo também na década dos anos 1760’s nos Livros Paroquiais enquanto Praça Nova ou Praça Nova dos Fabricantes pela óbvia ligação à natureza da construção deste bairro.
As casas foram concluídas dez anos depois, no espaço em que, em 1771, o Marquês de Pombal plantou a primeira das 331 amoreiras que até 1863 ali permaneceram, tendo nesse ano sido substituídas pelo jardim ainda hoje existente.
Este acto simbólico pretendeu reforçar a temática do espaço, já que esta espécie, como é de conhecimento geral, é utilizada para a produção de bichos da seda, sendo portanto bastante adequado à lógica desta infraestrutura nesta área da cidade de Lisboa.
Esta plantação ocorreu igualmente a par do surgimento da Ermida de Nossa Senhora de Monserrate, patrocinada pela Irmandade de Nossa Senhora de Monserrate e pelos fabricantes das Fábricas do Rato e construída pela irmandade dos Fabricantes da Seda em 1787, justamente neste local.
Seguindo a tradição popular, a identidade deste topínimo foi inspirada na flora local, passando a ser designado por Travessa das Amoreiras pela Deliberação Camarária de 18 de Maio de 1889 e respectivo Edital do Governo Civil de 8 de Junho de 1889, iniciando-se na Rua de São Francisco de Sales e terminando na Praça das Amoreiras.

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Águas Livres, Travessa das

Aqueduto das Águas Livres

 A sua designação remonta à época romana: a fonte da nascente da Água Livre em Belas, a qual, pela sua altura, quantidade e proximidade, reunia as condições necessárias para o abastecimento do município romano Felicitas Júlia Olisipo, tendo sido construído um aqueduto para esse fim. Existem algumas evidências que justificam esta premissa.
 O primeiro testemunho conhecido acerca do abastecimento de água a Lisboa data de 1571, tendo sido redigido por Francisco da Holanda (1517-1585) no sexto capítulo da obra Da Fábrica que falece à Cidade de Lisboa:
 “Deve (Vossa Alteza, D. Sebastião) de trazer a Lisboa a Água Livre, que de duas léguas dela trouxeram os Romanos a ela, por condutos debaixo da terra subterrâneos, furando muitos montes e com muito gasto e trabalho, não sendo Lisboa sua; afora outras águas que trouxeram a ela também mui de propósito como se querem e eles faziam as tais obras. E ali nas Águas Livres, freguesia de Belas, entre duas penedias asperíssimas de dois montes fizeram um muro larguíssimo e forte, que lhe represava a água de um vale em uma lagoa ou estanque, em que dizem que traziam por seu passatempo galé e batéis, como se hoje em dia na parede e sítio que era possível. E ganhe Vossa Alteza esta honra de fazer este benefício a Lisboa (ou lho faça fazer) de restituir esta fonte de Água Livre, que assim se chama, a esta cidade que morre de cede, e não lhe dão água”

Numa carta redigida em 26 de Setembro de 1620, o engenheiro militar e arquitecto italiano Leonardo Torriani (1559-1628) apresentou ao rei Filipe II, os modos como a água livre poderia ser conduzida a Lisboa, esquematizando-a em quatro caminhos dos quais, sobre o último, afirma no seu parecer que será através do aqueduto antigo dos Romanos.
Em 1867, o geólogo Carlos Ribeiro (1813-1882) emitiu um parecer no qual afirma ter encontrado restos de construção evidentemente romana perto da Amadora localizado entre os sítios da Gargantada e do Almarjão, rementendo esta descoberta enquanto elemento que poderia validar as acepções de Torriani. Num relatório de 1879,  sobre o abastecimento de água para Lisboa, o geólogo indicou que nas proximidades do Príncipe ou de Almarjão e Racoeira, existia um aqueduto alguns metros abaixo, cujos lanços de parede e de canalização seriam feitos de argamassa e de fragmentos de tijolo de origem romana.
A construção do Aqueduto das Águas livres iniciou-se no dia 16 de Agosto de 1731 por determinação do *Rei D. João V (1689-1750), tal como se pode ler no Alvará de 12 de Maio de 1731:
 “Eu El Rey faço saber a quantos este alvará virem que, havendo-se intentado remediar a falta de água que experimentam os moradores destas cidades (...), permiti que o Senado da Câmara par a despesa dela pudesse impor uma contribuição nos géneros que apontou: o ora se me representar que no procedido de tal contribuição estava junto dinheiro em que se podia principiar esta Obra (...).
 Hey por bem, e mando, que o Superintendente que nomeei para a mesma obra ordenasse logo com toda a brevidade possível que a dita se faça pelas terras, fazendas, moinhos, casais, contas, quintais e herdades, por onde houver de vir, ainda que sejam pessoas privilegiadas, de qualquer estado, condição, qualidade e privilégio incorporado em Direito, posto que sejam Desembargadores, por quanto todos têm obrigação de dar passagem à dita água, e não privilégio algum que disco os escuse (...), pagando-se a seus donos pelos seus justos preços os danos e perdas que as ditas fazendas com a dita água e sua falta receberem (...).
Mando que se cumpra, de meu poder real e absoluto (...) nem se intrometam contra o conteúdo deste alvará; e dêem toda a ajuda e favor ao Senado da Câmara e ao Superintendente da mesma obra.”

 Consistindo num vasto sistema de captação e transporte de água, por via gravítica, esta obra partiu da bacia hidrográfica da serra de Sintra, em Belas – A Mãe de Água Velha – coincidindo o seu trajecto, tal como descrito, com o percurso do antigo aqueduto romano, que culmina no reservatório da Mãe de Água das Amoreiras, em Lisboa.
 A sua construção foi possível graças a um imposto denominado Real de Água, lançado sobre bens essenciais como o azeite, o vinho e a carne. Os responsáveis iniciais pela elaboração do plano foram os arquitectos italiano António Canevari (1681-1764), o português Manuel da Maia (1677-1768) e o alemão Johann Friederich Ludwig (conhecido por João Frederico Ludovice, 1673-1752).
 A sua gigantesca estrutura caracteriza-se por um troço principal com 14 quilómetros, vários troços secundários destinados a transportar a água de cerca de 60 nascentes, e cinco galerias para abastecimento de aproximadamente 30 chafarizes de Lisboa. Na sua totalidade, o sistema do Aqueduto das Águas Livres, dentro e fora de Lisboa, atingia aproximadamente 58 quilómetros de extensão em meados do século XIX, tendo as suas águas deixado de ser aproveitadas para consumo humano a partir da década de 1960.
  No concelho de Sintra localizam-se as fontes mais longínquas, em particular na zona florestal de Vale de Lobo. Daqui, através de um troço que percorria várias quintas, junta-se ao complexo de Belas.
O concelho da Amadora é atravessado por 8 quilómetros. Em São Brás, na Mãe de Água Nova, percorre o território através de um canal até à Buraca, possuindo outros ramais secundários. Na estrada entre Belas e Caneças localiza-se um importante trecho, composto por uma sucessão de arcadas de volta perfeita, que mantém a conduta de água à altura inicialmente definida.
 Em Caneças (concelho de Odivelas), localizam-se alguns pontos de captação complementados por ramais secundários ligando-se à conduta principal. Dos quatro troços aqui erguidos, o principal é o do Caneiro que, partido da nascente de Olival do Santíssimo (a mais distante de Lisboa, a cerca de 18 quilómetros), englobava os de Poço da Bomba, Vale da Moura e Carvalheiro. Nesta freguesia o aqueduto prolonga-se por mais de 5 quilómetros, atravessa a Serra de Quintã e termina na antiga Quinta das Águas Livres, onde, através da Rampa Grande (que une os dois níveis de caudal dos vários troços), se liga ao tronco principal da obra.
Na Serra de Carnaxide (concelho de Oeiras) localizam-se algumas nascentes marcadas por três grandes estruturas circulares, a maior correspondente a uma mãe-de-água. Outro troço é o Aqueduto das Francesas, também subsidiário das Águas Livres e integralmente subterrâneo, sendo apenas visíveis as suas clarabóias, que pontuam a serra.
 Finalmente, no concelho de Lisboa, abrange as freguesias de Avenidas Novas, Benfica, Campolide, Campo de Ourique, Estrela, Misericórdia, São Domingos de Benfica, e Santo António, destacando-se sectores como o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras (início de construção em 1746), a Galeria do Loreto (1746), a Galeria das Necessidades (1752), a Galeria da Esperança (1752), a Galeria do Rato (1753), a Galeria do Campo Santana (1784), a Reservatório da Patriarcal (1860) e a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos (1880).
Tratando-se de uma de pouca estruturas que resistiram ao Terramoto de 1755, o seu mais icónico segmento localiza-se no vale de Alcântara, onde existem 35 arcos ao longo de 941 metros, entre os quais se destaca o maior arco em ogiva construído em pedra do mundo, atingindo 65,29 metros de altura e 28,86 metros de largura.
 O Aqueduto das Águas Livres constituiu uma obra pública de profundo impacte na sociedade lisboeta, tendo sido classificado Monumento Nacional pelo Decreto de 16 de Junho de 1910 (Diário do Governo n.º 136, de 23 de Junho de1910), foram igualmente contemplados a Sé de Lisboa, Basílica da Estrela, Castelo de São Jorge, Torre de São Vicente de Belém, e.o.
No arco das Amoreiras existia uma placa escrita em latim, mandada fixar por D. João V, onde se lia a seguinte inscrição:
 “No ano de 1748, Reinando o Piedoso, Feliz e Magnânimo Rei D. João V, o Senado e o Povo Lisbonense, à custa do mesmo Povo, e com muita satisfação dele, introduziu na Cidade as Águas Livres desejadas pelo espaço de dois séculos, e isto por meio de um aturado trabalho, durante vinte anos, em arrasar, desfazer e furar outeiros na redondeza de nove mil passos.”

 Designado Travessa das Águas Livres, este arrumamento inicia-se na Rua das Amoreiras e termina na Praça das Amoreiras, por Deliberação Camarária de 3 de Agosto de 1911 e respectivo Edital do Governo Civil de 7 de Agosto do mesmo ano.

Bibliografia:
Larcher, Jorge das Neves (1937). Memória histórica sobre o abastecimento de água a Lisboa até ao reinado de D. João V. Lisboa

Souza, Maria Luiza Zanatta (2011). Um novo olhar sobre “Da fábrica que falece à cidade de Lisboa”. Francisco de Holanda 1571. Dissertação de Doutoramento sob orientação do Prof. Doutor Luciano Migliaccio. São Paulo: Faculdade de Arquitectura e Urbanismo, Universidade de São Paulo.

n.a. Águas Livres. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

Procissão, Travessa da (n.º 1 a 5)

Travessa da Procissão. Celebração religiosa.
 
De acordo com Filipe Folque (1800-1874), que desempenhou o cargo de Director-Geral dos Trabalhos Geodésicos e Topográficos durante o reinado de D. Maria II, este arruamento está associado à Procissão do Corpo de Deus. Tal como verificável na edição que dirigiu, Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, neste conjunto de 65 plantas coloridas no âmbito da cartografia de Lisboa, a Travessa da Procissão encontrava-se muito próxima da Rua da Procissão, cuja designação foi alterada para *Rua Cecílio de Sousa por Edital do Governo Civil de 18 de Junho de 1926.
A procissão Corpus Christi, em Portugal, procissão do Corpo de Deus, ou do Santíssimo Corpo e Sangue de Deus, foi instituída para toda a igreja pelo papa Urbano IV (c. 1195-1264, cujo nome de baptismo era Jacques Pantaleón) com a promulgação da Bula Transiturus de hoc mundo no dia 11 de Agosto de 1264.
Trata-se de uma das mais antigas procissões de Lisboa, inúmeras vezes designada como a procissão das procissões. Apresentava um carácter de festa aberta a todos os estratos sociais. Portugal foi um dos primeiros países a aderir a este rito, comemorado no sexagésimo dia após a Páscoa, mais especificamente, na Quinta-feira que se segue ao Domingo da Santíssima Trindade (primeiro Domingo após o Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo).
Embora celebrada enquanto solenidade desde o reinado de D. Afonso III (1210-1279), no formato de procissão a sua origem remonta ao período de governação de D. João I (1357-1433), tendo ocorrido pela primeira vez em 1389. Dois anos depois, no dia 5 de Abril, o rei autorizou aos lisboetas o uso de armas e de cotas douradas durante as festas, obedecendo a um protocolo de acordo com a estratificação social.
Os triunfos alcançados por D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431) contra o reino de Castela, sobretudo na Batalha de Aljubarrota (14 de Agosto de 1385), elevaram São Jorge a santo padroeiro de Portugal. A devoção de D. João I e de D. Nuno Álvares Pereira, que inclusivamente atribuiu a este santo a responsabilidade da vitória nessa batalha, consubstanciou-se através da implementação da sua imagem nesta procissão, associando-a à festa.
Demorando várias horas a caminhar, o cortejo caracterizava-se pela utilização de carros alegóricos, danças, cenas de autos sacramentais, constituindo-se enquanto um ritual religioso e simultaneamente evento social.
O trajecto percorrido assentava em espaços simbólicos da cidade. Iniciava-se no Castelo de São Jorge (representando os que lutavam, a Nobreza), onde a imagem do santo era colocada sobre um cavalo, guardada por um soldado de cavalaria que envergava uma armadura. Este estaria incumbido de proteger o santo padroeiro da cidade e defensor da fé cristã, zelando pelo ouro e pedras preciosas que revestiam o chapéu e os trajes de São Jorge. O transporte da imagem era também levado a cabo pelos criados do Paço ao som de trombetas e tambores.
O segundo momento registava-se na Sé Catedral (representando os que rezavam, o Clero). Aqui era celebrada uma missa onde o Cardeal Patriarca elevava a Custódia (Corpo de Deus) aos presentes e a preparava para que,  finda a celebração, surgisse à porta da igreja sob um pálio, rodeado pela família real e pela nobreza, formando-se a procissão, na qual o rei e os infantes tomavam uma das varas (geralmente a primeira da direita), sendo as restantes destinadas ao Presidente do Senado da Câmara e à antiga nobreza.
O terceiro e último momento constituía o percurso até aos principais arruamentos da Baixa lisboeta (representando os que trabalhavam, o Povo), antes passando pela Igreja de *Santo António e pela Madalena, retornando finalmente à Sé Catedral.
Durante o reinado de *D. João V (1689-1750), a sumptuosidade deste cortejo atingiu proporções mais elevadas. Os diferentes estratos da população eram na época representados por associações sócio-profissionais, bem como por delegações das Ordens Religiosas. Existiam também paragens concebidas para representar glórias de São Jorge, para executar danças entre outras formas de cultura expressiva.
Esta procissão e seus passos poderá ser brevemente resumida no aviso público do rei D. José I (1714-1777), assinado pelo Secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte-Real, Marquês do Alegrete:
“Quinta feira 13 do corrente vai Sua Magestade à Santa Igreja 
Patriarchal e acompanha a Procissão do Corpo de Deos e he 
Servido que Vossa Exelencia se ache no Paço as outo horas da manha para o acompanhar e lhe assistir trazendo o manto da sua Ordem para o levar na Procissão e na mesma Santa
Igreja hade Sua Magestade, e os senhores Infantes Dom Pedro, Dom
Antonio, e Dom Manoel pegar nas varas do Palio, e he
o mesmo Senhor servido que Vossa Excelencia como Prezidente do Senado da Camara desta Cidade pegue na vara, que lhe tocarem 
similhante função, que he a que se segue aos Senhores Infantes athe fora da porta do Pateo, aonde a hade largar, e na
volta da Procissão hade Vossa Excelencia tornar a pegar na mesma
vara do dito sitio athe a Santa Igreja Patriarchal. E na quinta
feira seguinte, se achara Vossa Excelencia tambem no Paço às sinco 
horas da tarde para acompanhar ao mesmo Senhor que vai a referida Santa Igreja Patriarchal assistir a Procissão do outavo dia,
Deos guarde a Vossa Excelencia 11 de Junho de 1754”
Foram vários os atentados contra a família real no decurso desta procissão. D. João IV (1604-1656) sofreu uma tentativa de assassinato por Domingos Leite e Manuel Roque que, vindos Espanha, chegaram a Lisboa em Maio de 1647, alugaram três casas na Rua dos Torneiros na freguesia de São Nicolau. Estas habitações acompanhavam uma pequena praça por onde a procissão iria passar. No entanto, no dia 20 de Junho de 1647, o atentado foi gorado e Domingos Leite foi executado no dia 16 de Agosto de 1647, tendo-lhe as mãos sido decepadas antes do seu enforcamento. O seu corpo foi cortado aos pedaços que expostos durante vários dias em praça pública.
 No local do atentado, a rainha D. Luísa de Gusmão (1613-1666) mandou construir um convento dedicado ao Santíssimo Sacramento, ocupado pela Ordem dos Padres Carmelitas Descalços. Este evento inspirou o autor *Camilo Castelo Branco (1825-1890) a publicar as obras O Regicida (1874) e A filha do regicida (1875).
 O rei D. Manuel II (1889-1932), terá sido igualmente alvo de um atentado nesta procissão, desta feita, junto da Igreja da Vitória.
 Designado Travessa da Procissão, este arruamento inicia-se na Rua Cecílio de Sousa e termina na Rua de São Marçal.


Bibliografia:
n.a. (1819). Gabinete histórico que a sua Magestade Fidelíssima o Senhor Rei D. João VI em o dia dos seus felicíssimos annos, 13 de Maio de 1818, oferece Fr. Cláudio da Conceição. Tomo IV. Desde 1640 até 1668. Lisboa: Impressão Régia.
n.a. (1833). Duas sentenças proferidas no tempo da guerra da acclamação. Primeira Contra o alveioso Domingos Leite Pereira, que quiz matar atraiçoadamente ao Senhor Rei D. João IV, em 1647. Segunda contra o traidor D. Fernando Telles de Faro, que desamparou a Embaixada de Hollanda, e fugio para Castella em 1659. Lisboa: Impressão Régia.
n.a. (1908). El-Rei na Procissão do Corpo de Deus in Ilustração Portuguesa, Vol. 5.º, N.º 123;
n.a. (1908). El-Rei D. Manuel pegando à primeira vara do palio, na Procissão do Corpo de Deus in O Ocidente, Vol. XXXI.º, N.º 1062;
Barros, Amândio Jorge Morais (1993). “A procissão do Corpo de Deus no Porto nos séculos XV e XVI: a participação de uma confraria” in Revista da Faculdade de Letras. História. Série II, Vol. 10.º. Lisboa: Universidade de Lisboa.

Sítios Internet:
Revelar LX – Espaço e Tempo – Câmara Municipal de Lisboa
Aviso sobre a procissão do Corpo de Deus
Procissão Corpo de Deus
Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa

 

Légua da Póvoa, Travessa da

Légua da Póvoa

Segundo o Novo diccionário da língua portuguesa, cuja primeira edição data de 1899, esta expressão significa uma grande distância, e está associada a uma longa recta (actual estrada N205) que liga a Póvoa do Varzim à cidade de Barcelos. Deu origem ao dito popular “é do tamanho da Légua da Póvoa”, empregando-se como unidade comparativa de mensuração metafórica, no sentido de enfatizar a ideia de grande extensão ou dimensão.
No extremo desta estrada encontra-se a freguesia de Laúndos (Póvoa de Varzim), existente desde 1033 sob a designação de Montis Lanutus, onde foi construído o santuário de Nossa Senhora da Saúde, na localidade de São Félix, ponto alto onde existiam inúmeros moinhos.
Nesta estrada é cumprida anualmente no dia 21 de Março a Procissão de Passos de Amorim, integrada nas celebrações pascais. Ao longo da sua extensão poder-se-á encontrar também a capela de Santo António da Estrada (erigido em 1907), onde ocorrem igualmente festividades religiosas, tais como o Corpo de Deus e a Nossa Senhora das Candeias.
A origem deste topónimo em Lisboa é desconhecida, assim se designando pelo menos desde 1833. Localizando-se no antigo Bairro dos Artesãos, por aí se terem construído as Fábricas das Sedas e dos Pentes, e considerando que antes do Terramoto de 1755 esse terreno não era urbanizado, persiste a dúvida acerca do motivo da  atribuição desta nomeação a este arruamento.
Designado Travessa da Légua da Póvoa, este arruamento inicia-se na Praça das Amoreiras, terminando na Rua de Artilharia Um.


Bibliografia:
Carneiro, Deolinda Maria Veloso (2006). As procissões na Póvoa de Varzim (1900-1950). Imaginário religioso e piedade colectiva. Dissertação de Mestrado. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto;
Figueiredo, António Cândido (1913). Novo diccionário da língua portuguesa. Lisboa: Livraria Clássica;
Melo, Ana Homem de (s.d.). Travessa da Légua da Póvoa. Lisboa: Gabinete de Estudos Olisiponenses;
Sequeira, Gustavo Matos de (1917). Depois do terremoto; subsídios para a história dos bairros ocidentais de Lisboa. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa.

Sítios Internet:
Câmara Municipal da Póvoa de Varzim – Laúndos
http://www.cm-pvarzim.pt/municipio/juntas-de-freguesia/laundos

Departamento de Toponímia da Câmara Municipal de Lisboa
http://www.cm-lisboa.pt/toponimia