Rua Manuel Jesus Coelho

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Pátio José Alves

Pátio José Alves

Colégio dos Nobres, Beco

Real Colégio dos Nobres. (Instituído em Lisboa, 7 Mar. 1761; Extinto em Lisboa, 4 Jan. 1837)

O Real Colégio dos Nobres consistiu de um estabelecimento pré-universitário que, no quadro do Iluminismo, pretendia fornecer uma formação científica e literária sólida conducente à Universidade de Coimbra. Constituiu numa iniciativa do *Marquês de Pombal (1699-1782) destinada a jovens de origem burguesa.
Esta instituição foi estabelecida em Lisboa por via da Carta Régia de 7 de Março de 1761, embora só tenha iniciado actividades a 19 de Março de 1766. Para a sua instalação foi escolhido o edifício do Noviciado da Cotovia, entretanto vazio em virtude da expulsão dos Jesuítas. Após reparação dos danos provocados pelo Terramoto de 1755, e respectiva modernização, foi dotado de equipamento que, em parte significativa, provinha de elementos confiscados a Jesuítas e à Casa de Aveiro, acção esta legitimada pela Carta de Doação de 12 de Outubro de 1765.
Na modalidade de estabelecimento oficial, o Real Colégio dos Nobres obteve estatutos que definiam uma orgânica clara, possuindo uma gestão financeira a cargo da Junta de Administração das Rendas e da Economia do Colégio. O ingresso dos elementos colegiais processava-se mediante pedido ao Rei. O seu programa de ensino incluía disciplinas que integravam as áreas das Línguas, Filosofia, Matemáticas, Artes e Arquitectura, leccionadas por professores italianos, irlandeses e portugueses. No entanto, logo em 1772 a disciplina de Ciências Matemáticas foi extinta, tendo posteriormente, o Colégio ficado sob a alçada de uma Comissão de Censura de Livros.
Por Decreto publicado no Diário do Governo em 1837, esta instituição foi extinta, por ter sido considerada inconstitucional, uma vez que se demonstrava e assumia unicamente orientada para o ensino de uma classe social específica. Esta linha apresentava-se concordante com a implementação do Regime Liberal em Portugal, pelo que as instalações do colégio foram cedidas à então criada *Escola Politécnica de Lisboa, actualmente o Museu da Ciência e o Jardim Botânico.
    Designado Beco do Colégio dos Nobres, este arruamento situa-se entre os nºs 87 e 89 da Rua da Escola Politécnica, não tendo saída.

 

Bibliografia
AAVV (s.d.) Colégio dos Nobres. Associação Amigos da Torre do Tombo
Sequeira, Gustavo Matos de (1933). Depois do Terremoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, vol. I.

Fábrica dos Pentes, Travessa

Fábrica de Pentes de Marfim, Caixas de Papelão e Verniz

Esta fábrica integrou um projecto de reforma do sistema manufactureiro do Reino, no âmbito da qual se desenvolveram acções de profundas reformas urbanísticas.

Incluída no Real Colégio das Manufacturas (ou Colónia Fabril das Amoreiras), esta iniciativa reformista do *Marquês de Pombal (1699-1782) incluía a produção de sedas e tecidos, tinturaria e calandragem, cutelaria, relógios, limas, botões, fundição, louça, e.o., sendo esta última um exemplo extremamente bem sucedido no âmbito desta dinâmica, consubstanciado na Fábrica da Louça do Rato. Durante a sua governação, Pombal assegurou o trabalho de aproximadamente 3600 pessoas nestas unidades de produção.

Tal como é passível de verificar na obra intitulada Noções históricas, económicas e administrativas sobre a produção, e a manufactura das Sedas em Portugal e particularmente sobre a Real Fábrica do suburbio do Rato e suas anexas (1827), o político e historiador José Acúrcio das Neves (1766-1834) descreve esta fábrica enquanto uma anexa da Real *Fábrica das Sedas, já que terá sido nesta que teve início todo o processo empreendedor pombalino.

A lógica subjacente a esta concepção assentava, entre outros pilares, na criação de fábricas em sectores estratégicos que evitassem importações, financiadas pelo erário público na totalidade, ou em parceria com privados através de concessões (isenções fiscais, e.o.), dotadas de edifícios próprios construídos de raíz, e cuja mão-de-obra deveria ser totalmente nacional, excepto os mestres e operários qualificados, cuja função deveria ser a de gestão e de formação de novos mestres. O Marquês aplicou este modelo no Brasil, tendo tentado também em Angola.

Da sua fundação sabe-se que foi da responsabilidade do industrial francês Gabriel de la Croix no ano de 1764, com quem foi celebrado um contrato no dia 20 de Outubro desse ano, mediante o qual se lhe estabeleceu um “(…)ordenado de 600$000 rs., livres de décima, e de qualquer outro encargo, e concedendo-lhe alem disso ametade dos lucros, que désse a fabrica.” (Neves: 1827). Acúrcio das Neves destacou ainda que De la Croix terá sido o mestre contratado que mais mereceu destaque pela “(…) sua probidade, pelo zelo, e intelligencia com que procurou acreditar-se, e promover a prosperidade, não só desta fábrica, mas também de outros géneros de indústria, a que se applicou”.

Por estes motivos, foi-lhe concedida por Decreto de 8 de Outubro de 1768 uma pensão anual de 200$000 rs., que se estenderia à sua mulher após o seu falecimento, bem como lhe foi “(...) transmitida a fabrica, e concedido o uso gratuito do edifício por 10 annos; obrigando-se elle a reembolsar a Direcção dentro dos mesmos 10 annos de todas as despezas (...)

Neste contexto, Gabriel de la Croix abdicou do seu ordenado para explorar a fábrica dos pentes, tendo ficado sujeito à fiscalização da Direcção, o que assegurava os bons resultados da produção.

Nesta fábrica produziam-se pentes de marfim, de todas os géneros, e ainda de tartaruga, bolas do dito para taco e bilhar; facas de cortar papel e tirar pós; colheres e garfos de marfim; chapas de marfim aparelhadas para pentes; «Retrasse» e desperdícios de marfim; caixas de cartão de todas as qualidades; garrafas de vernizes de todos os géneros, e.o. Segundo *Gustavo Matos Sequeira (1880-1962), o marfim para pentes vinha do Brasil e de Angola, estando estas remessas devidamente documentadas na Torre do Tombo, o que denotava claramente uma fortíssima produção nacional de produtos que até então vinham habitualmente de Itália, de Espanha e de França.

Em 1772, a Fábrica de Pentes de Marfim, Caixas de Papelão e Verniz tinha já uma sucursal em Tomar dirigida por Jorge Reynier, a qual, malogradamente ficou totalmente destruída na sequência de um incêndio no dia 14 de Agosto do ano seguinte. Também na sede em Lisboa ocorreu um incêncio na noite de 19 para 20 de Julho de 1773, não tendo, ao contrário da sua sucursal, danos de monta.

O próprio Marquês de Pombal pronunciou-se sobre esta situação no dia 20 de Julho de 1773:

“O amor que me deve tudo o que he do interesse público, me poria em hum cuidado, que logo me fizesse passar a Lisboa, se me chegasse a noticia do incêndio da fabrica dos vernizes, sem a certeza, em que essa Direcção me constitue, de se ter reduzido somente o estrado aos tornos, e materiaes combustíveis, que estavão junto deles. Com o motivo da atenção, com que a mesma Junta me prevenio, e livrou do dito cuidado, lhe vou agradecer o que teve em me acautelar. E assim espero que V. S.ª lho signifique em meu nome.”

Gabriel de da Croix conseguiu ainda, numa dinâmica empreendedora, criar uma outra unidade de negócio nesta fábrica – a produção de lacre – tendo para o efeito contratado um metre ourives Bejoutier, uma actividade considerada inovadora para a época. Este mestre francês foi igualmente pioneiro na introdução de tornos altos, utensílios que até data eram desconhecidos na indústria manufactureira portuguesa, que tinha como prática a utilização de tornos de pé.

Em 1784, La Croix trespassou a fábrica para José Francisco del Cuoco por via de um contrato aprovado pela Real Resolução de 28 de Abril, o qual continuou o legado mantendo a prosperidade produtiva desta infraestrutura. Sabe-se ainda que por Alvará de 21 de Setembro do ano seguinte, Cuoco obteve a prorrogação dos seus privilégios par mais dez anos.

Designado Travessa da Fábrica dos Pentes, este arruamento inicia-se na Praça das Amoreiras e termina na Rua de Artilharia Um.

Bibliografia

AAVV (2009). Património e Biografia. Vieira da Silva e o Jardim das Amoreiras. Lisboa: Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva;

Araújo, Norberto de (s.d.). Peregrinações em Lisboa. Lisboa: Parceria A. M. Pereira.

Matos Sequeira, Gustavo (1933). Depois do Terremoto. Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa. Coimbra: Imprensa da Universidade, vol. IV

Melo, Ana Homem de (s.d.). Travessa da Fábrica das Sedas. Gabinete de Estudos Olisiponenses;

Neves, José Acúrcio das (1827). Noções históricas, económicas e administrativas sobre a produção, e a manufactura das Sedas em Portugal e particularmente sobre a Real Fábrica do suburbio do Rato e suas anexas. Lisboa: Impressão Régia;

Santana, Francisco; Sucena, Eduardo (dir.) (1994). Dicionário de História de Lisboa. Lisboa: Carlos Quintas & Associados.