Calçada Engenheiro Miguel Pais

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Miguel Carlos Correia Pais (n. Lisboa, 1825; m. Lisboa, 17 Mar. 1888) Engenheiro Militar, Director Técnico dos Caminhos de Ferro do Sueste.

Assentou praça aos 17 anos, tendo iniciado uma carreira militar, ascendendo para Alferes (1851), Capitão (1868), a Major (1880) e finalmente a Tenente-Coronel (1883).
Considerado um homem fora do seu tempo por uns e utópico por outros, dedicou a sua vida à concepção e execução de projectos com vista ao melhoramento e desenvolvimento urbano da topografia de Lisboa, tendo nesse contexto publicado várias obras, designadamente Melhoramentos de Lisboa e o Seu Porto (1882), na qual agregou os vários artigos que publicava sobre esta temática, fazendo ler-se:
“Apesar de muitas pessoas os terem considerado como utopias e classificado o seu autor de louco e visionário, declaro desassombradamente que, se alguma coisa tenho a arrepender-me, é de os não ter apresentado com a grandiosa concepção com que primitivamente os delineei”

Notabilizou-se por ter proposto a construção de uma ponte, inicialmente de caminho-de-ferro entre Lisboa e o Montijo, tendo apresentado no dia 7 de Outubro de 1876 um documento à Associação dos Engenheiros Civis, no qual apresentava o local mais conveniente para a construção da estação terminal da rede ferroviária transtagana, fixando-a em Lisboa. Tendo obtido apoio para prosseguir esta proposta, apresentou no dia 3 de Abril de 1879 um plano desenvolvido que obteve aprovação plena, bem como um voto por escritos dos mais proeminentes engenheiros da época.

No entanto, não apresentou projecto mas antes o desenho da superestrutura da ponte, definindo as suas características e como poderiam ser construídos os pilares e os encontros, caso a geologia do terreno fosse semelhante à do Vale do Tejo, tendo previsto, com base em valores de construções similares, um valor de 3.000 contos para um período de cinco anos. Esta ponte deveria servir para fins económicos e militares, sendo de constituição mista: tabuleiro superior para viação ordinária e acelerada e tabuleiro inferior para a linha férrea.
No entanto, a inércia política inviabilizou este visionário projecto, noventa antes da inauguração da primeira travessia sobre o Tejo aquando da inauguração da Ponte Salazar, actual Ponte 25 de Abril no dia 6 de Agosto de 1966. Concretização desta travessia só acabaria por ocorrer 122 anos depois, a 29 de Março de 1998, data da inauguração da Ponte Vasco da Gama.

Na sua perspectiva, Lisboa deveria ter três estações de caminho-de-ferro de longo curso: Leste, Norte (Calçada do Salitre) e Oeste (Vale de Alcântara), sendo que a estação orientada para o serviço da rede do Sul deveria ser construída no Cais dos Soldados, actual localização da Estação de Santa Apolónia.
Entre os vários melhoramentos que propôs para a cidade de Lisboa, destacam-se: Túnel entre o Largo do Pelourinho e o Largo do Corpo Santo, estudo por uma comissão nomeada pelo Ministro das Obras Públicas (1871); viaduto metálico entre o Largo do Caldas e o Chiado na extensão de 330 metros; avenida do Palácio de São Bento, entre a Rua Larga de São Roque e o Largo de São Bento, na extensão de 800 metros; túnel entre a Rua de São Vicente e a Rua de Santo Antão; grande viaduto metálico entre o Monte da Graça e o Monte da Estrela; linha de tuneis entre o Largo do Intendente e a Rua de São Bento; mercados de Lisboa, etc.

Em Agosto de 1873, foi nomeado Engenheiro-Chefe de Tracção e Conservação do Caminho de Ferro do Sul, linha inaugurada por *D. Pedro V (1837-1861), criada com o objectivo de servir de interface para as mercadorias vindas do Sul pela ferrovia e que seguiam para Lisboa por barco.
Em 1875, deu-se início aos trabalhos preliminares para a construção da nova estação ferroviária do Barreiro junto do cais, de resultou a redacção e desenho de um projecto de obras da sua autoria no ano seguinte, cujo custo pouco excedeu os cinquenta Contos de Reis. As obras chegaram à sua conclusão em Setembro de 1884, o edifício foi inaugurado no dia 4 de Outubro e abriu à exploração no dia 20 de Dezembro desse ano.

Tratou-se uma obra de engenharia notável e digna de reconhecimento, tal como é possível ler no periódico O Occidente:
“A construção d’esta estação e o caes foi por muito tempo julgada impraticável, mesmo na opinião de alguns engenheiros estrangeiros e por isso tanta mais honra cabe ao seu construtor, o engenheiro sr. Miguel Paes, que a planeou e dirigiu até final conclusão, com uma tenacidade e zelo dignos do maior elogio.
A Câmara Municipal do Barreiro, compenetrada do grande serviço que o digno engenheiro lhe prestou, fazendo com a estação alli se construísse e portanto não privando o Barreiro das vantagens de ser o limite de uma linha férrea importante, resolveu em sessão extraordinária de 4 do corrente [1884], inaugurar a sala das suas sessões o retrato do sr. Miguel Paes e denominar a rua que vae da egreja do Rosário à estação – Rua Miguel Paes”

Anteriormente designado Ria da Penha de França, Calçada da Penha de França e Calçada de João do Rio, este arruamento foi renomeado Calçada Engenheiro Miguel Pais por deliberação no Edital do Governo Civil de 23 de Dezembro de 1948, tendo o seu início na Rua Marcos de Portugal e término na Rua da Escola Politécnica.

Bibliografia

AAVV (1888). “A nova estação dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste no Barreiro” in Ocidente. Lisboa. 21 de Outubro de 1884 (Vol. VII, Ano 7.º, n.º 210)
AAVV (1888). “As nossas gravuras – Miguel Carlos Correia Paes” in Ocidente. Lisboa. 11 de Abril de 1888 (Vol. IX, Ano 11.ª, n.º 335)

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